quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

OLIGARQUIA & LIBERTAÇÃO: duas faces do negócio da política

Editorial
OLIGARQUIA & LIBERTAÇÃO: duas faces do negócio da política

Uma sombra ronda a disputa de poder no Maranhão: o maniqueísmo. Desde as eleições de 2006, os tucanos cunharam a luta do bem contra o mal nos pleitos à Presidência da República e ao Governo do Estado, respectivamente. O primeiro bloco representado por Geraldo Alckmin (PSDB) e Jackson Lago (PDT). O segundo materializado em Lula (PT) e Roseana Sarney (então PFL).
Sob a retórica de “libertar” o Maranhão, a frente que levou à vitória de Jackson Lago reuniu sarneístas e ex-sarneístas, a direita tucana anti-Lula, alguns democratas e uma parte do PT liderada pelo presidente do diretório regional Domingos Dutra, eleito deputado federal.
Operação
A dita retórica mobilizou os dois grandes colégios eleitorais de São Luís e Imperatriz. Na ilha, ressuscitou-se a mística e a tendência do eleitorado de rejeição ao grupo Sarney. Na principal cidade da região tocantina, a falta de um candidato a vice-governador nativo na chapa de Roseana incitou uma onda regionalista e separatista, dando uma votação esmagadora a Jackson. Fora desses dois colégios eleitorais, o Maranhão inteiro sabe como o governador José Reinaldo (PSB) operou a eleição do seu sucessor.
Toda a base parlamentar historicamente sarneísta rapidamente aderiu à tese da “Libertação”. José Reinaldo aprendeu com Sarney e passou a Jackson Lago o segredo da magia capaz de hipnotizar e converter rapidamente a maioria dos parlamentares.
Foi assim que o candidato a deputado Edvaldo Holanda (PTC), eleitor de Roseana Sarney, rapidamente transformou-se em líder do governo Jackson na Assembléia Legislativa (AL). O sarneísta histórico João Evangelista (PSDB) passou por longos processos de “convencimento ideológico” para finalmente aderir à Libertação do Maranhão e presidir a AL.
Jackson radicalizou
Mas não foi só a tecnologia de sedução do parlamento que Jackson herdou do sarneísmo. A “Libertação” radicalizou quase todos os métodos do sistema oligárquico dos “40 anos de atraso”, como diz o surrado chavão. Corrupção, nepotismo, fisiologismo, secretariado predominantemente de direita, intransigência nas negociações com os movimentos sociais, falta de transparência na aplicação dos gastos públicos e tantas outras marcas da oligarquia ganham terreno rapidamente.
Toda essa biodiversidade política no Maranhão é hegemonizada pelo PSDB e seu aparelho midiático, cujo principal objetivo é combater o governo Lula sem tréguas. Entre a omissão e o constrangimento, a ala petista no governo silencia sobre as críticas para não prejudicar a governabilidade. Assim, as relações entre tucanos e petistas compõem desde dobradinhas eleitorais até elogios mútuos: “Castelo agora é Dutra e Dutra é Castelo”, proclamou o ex-candidato a senador pelo PSDB, João Castelo, na posse do diretório estadual petista em dezembro de 2005.
Transgênicos
O Maranhão passa por um processo de transgenia ideológica. O governo que se propunha acabar com a oligarquia constituiu uma força à direita do sarneísmo.
É preciso, portanto, superar essa falsa dicotomia de que os tucano-pedetistas com apoio de uma ala do PT sintetizam o bem em luta contra o mal (Sarney e os verdadeiros aliados do governo Lula no Maranhão).
A vitória de Jackson foi fruto de uma concepção de político-eleitoral tão mercadológica quanto a vitória de Roseana sobre Cafeteira em 1994, só para ficar nesse exemplo. Portanto, a oligarquia e a “Libertação” compõem a mesma moeda do negócio da política. Esses dois grupos não se distingüem também sobre um projeto de desenvolvimento para o Maranhão. O que há de novo além do surrado chavão jackista dos “40 anos de atraso”?
Cadê o projeto?
Quais as diretrizes econômicas para alavancar a agricultura, a infra-estrutura, o turismo, o comércio, o parque industrial etc? Se existem, estão guardadas a sete chaves nos relatórios das confrarias de planejamento.
O Maranhão ainda está amarrado à lógica modernizadora da monocultura de soja e do corredor de escoamento de minero-metalúrgico. Precisa sair da modernização conservadora e dos enclaves econômicos para dar um salto rumo ao desenvolvimento.
Essa tarefa cabe a novos protagonistas. As verdadeiras forças de esquerda do Maranhão precisam ir além do maniqueísmo tucano inspirado na Avenida Paulista.
Precisam colocar-se além do bem e do mal. Ir adiante das disputas eleitorais, elaborar um programa de governo viável, copiar experiências de sucesso, criar novas formas de alavancagem econômica, adaptando-as à realidade local; enfim, sair do pragmatismo eleitoral para práxis política plena.
O resto é só retórica que não ilude por muito tempo.

8 comentários:

Nielsen Furtado disse...

Bem vindo ao meio digital meu camarada.

luis henrique sousa disse...

Camarada ED,

Primeiro felicito pela iniciativa do blogue. Sobre o artigo, embora reconheça a força argumentativa, no que tange a contextualização da frente, gostaria de ponderar que " A libertação" foi o que o processo histórico produziu para dar cabo a oligarquia quarentona. Assim,não foi só o PT Dutrista que se engajou na campanha de 2006, quase que todos os petistas o fizeram, com raras e equivocadas exceções. Entendo o governo Jackson como a "transição possivel" e a duração desta transição depende das forças de esquerda se apropriarem do processo histórico desencadeado. As eleições municipais 2008,principalmente em São Luís, entendo ser um destes momentos que nos possibilita emergir da tal dicotomia que vc aludiu e que é fato.
Luís Henrique Sousa,Jornalista.

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog. Muito bom seu texto sobre a elição de jackson. Concorcordo que precisamos evoluir politicamente para além do sarneysmo e do antisarneysmo. Precisamos pautar propostas que alicercem a construção de uma nova sociedade, ou politicamente andaremos em cículo sem jamais chegarmos a algum lugar.

Weliton Oliveira
http://otimonense.blogspot.com/

Unknown disse...

Jornalista lúcido e com excelente capacidade de síntese. Parabéns pelo blogue e pela excelente matéria.

Unknown disse...

Excelente editorial. Eu que conheço o interior do Maranhão não vi ainda o resultado do que foi um monumental projeto político de marca definitiva.E assim, como a maioria do povo da nossa terra, desejo enxergar o governo livre das amarras, decorrentes da estrutura montada para derrotar o que se convencionou chamar de oligarquia, e também livre daqueles que foram do "passado" e hoje são os expoentes do presente. Clésio C. Cunha, é Juiz de Direito

Unknown disse...

Fico feliz, por mais um jornalista independente maranhense, utilizar essa forma de comunicação, que alcança milhões de pessoas, isso ajuda a conscientizar as pessoas, que nem todos precisam estarem atrelhada aos poderosos, para manisfestar sua de opinião favoraveis a "eles" e esconder a sua verdadeira opinião, com receio de ver suas verbas cortadas. Valeu, agradeço também ao Walter Rodrigues pela canalização dos seu blogue.

Anônimo disse...

Camarada, Ed Wilson

Excelente seu texto. Parabéns! Seha bem-vindo a blogosfera.
abraço
Itevaldo

Unknown disse...

Ed Wilson, seu cabra da peste, gostei do seu texto e concordo com as idéías nele contidas até certo ponto. De fato, nada de novo sob o sol no governo Jackson, além de muita purpurina, e não é só do nosso desmaiado carnaval. Um novo projeto para o Maranhão ainda está longe de vingar com a matéria-prima política de que dispomos. O baldrame ideológico, no Estado, ainda é podre. Cultura (tratada como mera mercadoria), meio ambiente (fábricas de EIA-RIMAS, com o avanço criminoso da soja), educação não-sistêmica, saúde(mais remédios e nada de alimentação saudável, via nova cultura alimentar), dentre tantas outros equívocos denunciadores de uma política oportunista e tratada como de transição (mais 40 anos?)não deixam sinais de visibilidade favorável no horizonte do Maranhão. Diga-me lá, quem tem moral, no meio político, para "peitar" de frente esse panorama deprimente com a consistência necessária e com um projeto realmente transformador? As alianças continuarão ainda por muito tempo "tapando o sol com a peneira". Haja fígado para suportar a mediocridade...