sábado, 1 de março de 2008

Além das oligarquias

É compreensível que meu artigo sobre "Oligarquia e Libertação: duas faces do negócio da política" tenha sido atacado no Jornal Pequeno por um assessor do deputado federal Roberto Rocha (PSDB). Estranho seria se o parlamentar tivesse gostado. Também não me surpreende que o citado funcionário seja filiado ao PT. Ele não é o único petista atucanado no Maranhão. Dito isso, acrescento algumas informações e reflexões que me parecem úteis.

Votei em Jackson Lago várias vezes desde 1988, quando não houve candidatura própria do PT. Deixei de fazê-lo em 2000, quando ele celebrou um acordo com a oligarquia Sarney e reelegeu-se Prefeito de São Luís, brindando champanhe ao lado de Roseana. Àquela época o acordo era Jackson Governador em 2002 e Roseana Presidente da República, o casamento perfeito. Então veio a operação Lunus e o pedetista voltou forçado à oposição.

À época escrevi um artigo no Jornal Pequeno criticando a postura do então Prefeito de aliar-se ao sarneísmo. E há vários artigos de minha autoria nos quais sempre demarquei posição contra o grupo Sarney, combatendo esse modo de governar pautado no nepotismo, na corrupção e na concentração de renda. Fiz isso quando a governadora era Roseana. Ao contrário de tantos outros, não esperei que Fernando Henrique ou o governador José Reinaldo autorizassem para ficar contra Sarney. Fui e sou contra a oligarquia na sua essência, de sistema de gestão do governo e da política, tenha Sarney no comando ou não.

Outro aspecto essencial da minha crítica é o projeto conservador implantado no Maranhão, focado prioritariamente nos grandes empreendimentos mínero-metalúrgicos e na monocultura de soja. Estão aí as raízes dos nossos baixos indicadores econômicos e sociais. E desde já abro parêntesis para um palpite: esses indicadores tendem a melhorar nos próximos anos, principalmente pela intervenção dos novos programas sociais do governo federal desde 2003. Obviamente, as novas estatísticas serão incorporadas aos resultados positivos do Governo do Estado. Somente no programa “Territórios da Cidadania” o governo Lula vai investir R$ 933 milhões no Maranhão em 2008.

Aguardei mais de um ano do governo Jackson Lago para elaborar uma avaliação. Com diferenças de grau, talvez, creio que muitos petistas e não petistas concordam com ela. Até tucanos e atucanados, pelo que tenho visto, admitem que o atual governo é "contraditório" e tem "vícios" típicos do sistema oligárquico vigente aqui há mais de 40 anos, tanto no governo do Estado quanto nas prefeituras.

Queremos abrir o debate. Saber qual o projeto do governo para o desenvolvimento do Maranhão. Não basta declarar-se reformista e comprometido com a transformação estrutural do Estado. Isso é mero exercício de ilusionismo retórico. Apontar limitações políticas e institucionais também não vale. O grupo que chegou ao poder não é novo na teia burocrática do Maranhão e conhece bem os trâmites administrativos desde os tempos do governador Luiz Rocha (PDS).

O governo Lula, este sim, novato na máquina burocrática, teve dificuldades muito mais graves - políticas, administrativas e éticas - mas conseguiu superá-las porque tinha um projeto para o Brasil, maturado ao longo de 13 anos de derrotas pedagógicas. Agora, até o Bolsa Família serve de protótipo para o mundo.

Em 2006 anulei meu voto. Além de não apresentar um programa de governo, como não mostrou até agora, o candidato da "Frente de Libertação" estava refém de uma aliança majoritariamente tucana e anti-Lula. Mais que isso, os tucanos reforçavam a artilharia no bombardeio pelo qual passava o PT no Maranhão e no Brasil, com o silêncio de Jackson Lago e o apoio do PDT nacional, nos ataques frontais do seu presidente Carlos Lupi.

Encerrado o primeiro turno, Jackson Lago foi pressionado pelos tucanos a declarar apoio a Geraldo Alckmin (PSDB). Mas não o fez, talvez porque o bom desempenho de Lula no Maranhão pudesse atrapalhá-lo. Ou porque suas origens no trabalhismo brizolista tenham falado mais alto que o cerco dos maus conselheiros. Foi então que surgiu a máxima tucana, de autoria do deputado federal Roberto Rocha, de que a disputa eleitoral de 2006 era a luta do bem (Alckmin/Jackson) contra o mal (Lula/Sarney).

Enquanto isso, a militância do PDT cerrava fileiras com Lu (Daslu) Alckmin, esposa tucana de Geraldo, em uma caminhada na rua Grande. As bandeiras do 12 e do PSDB tremulavam juntas e a passeata finalizou com um discurso do candidato a senador João Castelo (PSDB) na praça Deodoro. Somente três dias antes do segundo turno, depois de muita pressão, sobretudo pressão das ruas, os marqueteiros de Jackson soltaram um filme lembrando sua grande amizade com Lula, desde a época das Caravanas da Cidadania.

Da vitória da Frente até hoje, temos um governo hegemonizado pelo PSDB. Além de, durante a campanha apresentar o candidato majoritário ao Senado, João Castelo, os tucanos agora controlam a Casa Civil com Aderson Lago, a presidência da Assembléia Legislativa com João Evangelista (afastado por problemas de saúde), a Secretaria de Cidades e Infra-estrutura com Telma Pinheiro, a Secretaria de Articulação Política com Wilson Carvalho, além da forte representação parlamentar estadual e federal. Só faltou a Secretaria de Planejamento e a de Fazenda, cujo titular, entretanto, não por coincidência, foi diretor de banco oficial no governo Castelo.

O PT, em que pese a qualidade da maioria dos seus quadros no governo, está em secretarias não estratégicas, duas com quase nenhum orçamento, a não ser os programas do governo federal. Somente a Secretaria de Cultura tem peso político e orçamento. Nem o PDT, partido do governador Jackson Lago, tem tantos espaços importantes na máquina quanto o PSDB.

Todos esses tucanos, não podemos esquecer, ao contrário de Jackson, formaram-se na escola do grupo Sarney. Portanto, se o governo Jackson Lago quer libertar o Maranhão precisa primeiro libertar-se do sarneísmo, desse método de operar o governo e a política. É esse o desejo dos maranhenses. Precisa sair do palanque, ir além do bem e do mal tucanos, superar o maniqueísmo e apresentar um projeto de desenvolvimento para o Estado. Qual a concepção de governo? Quais as diretrizes da política econômica? Quais as ações emergenciais, de médio e longo prazos? É preciso recuperar o Jackson Lago dos bons tempos na Prefeitura de São Luís: trabalho e honestidade.

Lula superou quase todos os ataques da direita e da mídia burguesa porque tem um projeto e o Brasil voltou a crescer. O que não pode continuar ocorrendo, no Maranhão, é o governo atribuir os entraves à perseguição da oligarquia Sarney.

As patrulhas ideológicas - que frequentemente misturam sectarismo e fisiologismo - também dificultam o exercício democrático do diálogo. Qualquer cristão, agnóstico ou ateu que manifeste opinião crítica ao governo Lago é logo taxado de sarneísta, um chavão limitado teoricamente, que não consegue, na sua miopia sociológica, ultrapassar sequer a ponte sobre o Estreito dos Mosquitos. Não percebe que a aliança de Lula com Sarney não é por amor ou afinidade, e sim pela banda do PMDB que garante a governabilidade.

O governo Lula não é importante só para o Brasil, mas para o mundo. Está integrando comercial e politicamente a América Latina, recuperou a credibilidade internacional quase zerada por FHC, compõe um dos mais importantes blocos de países em desenvolvimento no mundo (o Bric: Brasil, Rússia, Índia e China), abriu frentes comerciais na África e no Oriente Médio, levantou a agenda de alternativas energéticas, fortaleceu o setor público e as estatais; enfim, há um conjunto de ações imediatas e estratégicas convergindo para alavancar o Brasil internamente e na geopolítica mundial. A melhoria dos indicadores sociais e a aprovação de Lula refletem isso.

No plano local, temos de começar a pensar no “pós-Sarney”, como sugere o deputado federal Flavio Dino (PC do B), superando o maniqueísmo e descendo do palanque. Quanto à disputa pela Prefeitura de São Luís, o PT pode ter candidatura própria ou coligar com outro partido. Já estão postos quatro pré-candidatos (em ordem alfabética): Bira do Pindaré, Ed Wilson Araújo, Kleber Gomes e Raimundo Monteiro. Todos ajudam a construir o PT, com suas histórias de vida e militância, e são dignos de representar a legenda.

A eleição de 2008 será uma etapa importante para reagrupar correntes e nomes em torno de um projeto para São Luís. Vai funcionar como “prévia” de 2008. É preciso aglutinar as forças democráticas e populares, em torno de um projeto de desenvolvimento para o Maranhão, e fazê-las predominar em qualquer frente de que a esquerda participe. Tendo sempre como farol o governo Lula. Que também devemos criticar para aperfeiçoar.

O problema é que o eleitoral e o pragmático costumam vir antes do programático. Aí as pessoas passam a ser mais importantes que a coisa pública. É necessário melhorar essa ordem, de modo que as pessoas e os projetos estejam em sintonia. E nesse sentido precisa-se dar oportunidade também às novas lideranças, mas com cuidado, porque tem muitas pessoas maduras com idéias novas e tanta gente nova caducando das idéias.

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